"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

domingo, 19 de abril de 2015

Mas eu me moooordo de ciúme

Uma das coisas mais fáceis de enxergar hoje em dia (acho que desde sempre, na verdade) é ver alguém se mordendo de ciúme. Sem querer me vangloriar. acho que cheguei a sentir isso pouquíssimas vezes e bem temporariamente. Não sei explicar ou dar uma fórmula para isso, mas eu, simplesmente, não sou ciumenta e nunca fui, talvez minha educação fez com que eu não "aprendesse" (nunca vi minha mãe com ciúme do meu pai, por exemplo) isso - se isso é aprendido - ou isso seja "intrínseco" a mim. Pensei na minha infância e não me lembro também de ter ciúmes do meu irmão ou das minhas irmãs, por exemplo. Nem de amigas. Mas só fui perceber essa minha característica quando entrei num relacionamento sério pela primeira vez. De início as pessoas me chamavam de sangue de barata porque eu aceitava muita coisa, como por exemplo, permitir que meu parceiro saísse sozinho, viajasse sozinho e etc. Até hoje eu fico me perguntando o porquê eu não deveria "deixar". "Ele pode me trair", "ele não pode se divertir sem mim", "tu vai ficar sem moral", "ele vai se acostumar"... enfim, já ouvi tudo isso, mas nada disso fez sentido pra mim algum dia.

Fazer "xixi" pra marcar território é tão animalesco quanto sentir ciúme e fazer cenas.

É fácil também ouvir umas conversas de que "um pouco de ciúme faz bem". Não. Ciúme não faz bem. Ciúme não é legal. Cuidar, sentir que está sendo cuidado, sentir que se é querido, isso sim faz bem, e ter ciúme é muito diferente de qualquer uma dessas coisas.

As primeiras coisas que vêm à minha cabeça quando penso em "ciúme" são: ameaça, possessão, baixa autoestima, falta de confiança. (uma ou mais, ou tudo isso).

Sentir ciúme pode ser definida como o ato de sentir-se "ameaçado" por algo ou alguém, às vezes não conseguimos descrever, mas nossos pensamentos seriam algo como: "Isso/Ele/ela pode tomar meu lugar". Você se sente ameaçado - aqui já vemos o sentimento de posse, pois, se me sinto ameaçado, é porque acho que algo (e tratamos o outro como um objeto muitas vezes) é MEU e não quero nem posso perdê-lo. Então, devemos nos perguntar: por que isso pode tomar "meu" lugar? E chegamos na autoestima.

O ciúme pode ser uma amostra de uma autoestima baixa. A pessoa acha que qualquer outra pessoa é melhor, mais bonit@, mais interessante, mais legal, e, portanto, mais perigoso. Mas, sentir-se assim, é comum. Nem sempre pessoas com autoestima baixa são ciumentas, muitas sabem que isso tem mais a ver com o que pensamos sobre nós do que com o que de fato somos. Então, dito isto, nos resta ligar o sentimento de ameaça, devido a uma autoestima baixa, a uma falta de confiança - afinal, eu posso até ter uma autoestima baixa, mas se eu confio, então está tudo bem. Só que nem todo mundo confia: "ela é bonita e ele é safado! com certeza ele vai me trair! Eu não confio!".

Muita crise de ciúme é completamente sem fundamentação concreta, a não ser a própria imaginação da pessoa.

Segunda Nazaré Costa, psicóloga e estudiosa do assunto:
"Tanto em situações de “ciúme”, quanto em situações de inveja*, pressupõem-se dois elementos fundamentais: a presença de um rival e a competição." (Costa, 2009)
*Não me assustou ver a presença da inveja, na Bíblia em algumas traduções a palavra "ciúme" é colocada como "inveja", como muitas vezes sinônimos.

Na Bíblia, o ciúme é considerado como uma obra da carne, no mesmo rol da idolatria e logo após o ódio:

Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções. (Gálatas 5:19-20)

Em Cantares, o livro mais "romântico", o ciúme é considerado inflexível como uma sepultura:
Coloque-me como um selo sobre o seu coração; como um selo sobre o seu braço; pois o amor é tão forte quanto a morte, e o ciúme é tão inflexível quanto a sepultura. Suas brasas são fogo ardente, são labaredas do Senhor. (Cânticos 8:6-7)

E sobre o amor, uma das coisas que temos é que ele não maltrata. E ciúme maltrata. Não combina com amor. Maltrata quem sente e maltrata quem sofre por causa dele. Não é bom sentir ciúme muito menos vangloriar-se por causa dele porque ele não faz bem pra ninguém.

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. (1 Coríntios 13:4-5)
Uma das formas de demonstrar: encoleirar. É quando o relacionamento vira uma obrigação.

Se você é cristão um conselho útil é: orar. Orar e pedir que Deus ajude você e que o Espírito Santo faça as mudanças que achar necessárias. Se você não é, esse é um conselho para você também, mas se não achar isso suficiente, então, basta apenas observar e fazer uma autoavaliação sobre o quanto esse sentimento tem atrapalhado seus relacionamentos, seja conjugal ou não. Seja sincero consigo mesmo e perceba que de nada adianta saber que a pessoa ao seu lado fez algo porque você fez um escândalo, milhares de chantagens e ameaças. Perceba que seu ciúme é muito mais um reflexo de você consigo mesmo do que algo relacionado à sua relação. Tem a ver sobre como você se vê, como você decide se portar, como você acha que as pessoas te tratam e como você reage a isso. Lembre-se também que ele é a maior causa das separações e da violência e decida não colaborar com isso começando por mudar de atitude em como se vê e como coloca isso ao outro.

Não acredite - ou melhor, pare de mentir para si mesmo - que um pouco de ciúme "tempera" o relacionamento, pois não tempera, na verdade, salga demais, mesmo que um "pouquinho" (não se engane, você sente hoje um "pouquinho" amanhã não consegue controlar). A gente sabe que essas frases são só pra nos justificar e deixar a consciência limpa. E isso se controla sim. As coisas mudam quando você muda, quando sua postura em relação a si mesmo muda.
O verdadeiro ciumento nunca perceberá, mas em sua imaturidade emocional, não deseja a felicidade do outro já que tenta enjaular ao seu lado todas as possibilidades de realização. Se o parceiro quer se divertir com os amigos, ser feliz no trabalho, almoçar com a mãe, brincar com o sobrinho ou sorrir para uma amiga imediatamente sua fúria desmedida vem à tona e castra aquele momento comum que se torna pauta de intermináveis discussões. O preço de se viver um amor maduro, autônomo e livre de imposições castradoras é sempre um grau de impotência, incerteza, ambiguidade e vulnerabilidade. Quatro fantasmas que estamos pouco habituados a encarar e administrar.
Alguém não é algo para ser "seu". Nem que vocês sejam casados, não é assim que a coisa deve funcionar, ninguém deve ser a posse de outro. O amor deve ser voluntário, acordado, uma decisão. Quando você se dá conta disso e decide acreditar que o outro está com você por amor, por querer (e não por ser uma propriedade, o que de fato não é), então a relação não passa a ser vivida com mais facilidade, mas com certeza com mais leveza, com mais alegria. Porque cada dia a mais que você entende que voluntariamente esta pessoa está ao seu lado, é um dia a mais que você pensa que realmente ela te ama.

A gente só percebe que a pessoa quer realmente a nossa companhia quando isso não é uma obrigação. Quando seu parceiro te convida pra você ir junto com ele sair com os primos, mesmo sabendo que poderia ir sozinho. Ou quando ele volta mais cedo porque sentiu sua falta ou ainda queria fazer um programa com você. É quando há voluntariedade que você sabe que pode valer a pena. Quando é uma obrigação, como num relacionamento movido a ciúme, muito do que é feito é feito para "evitar discussões" ou evitar "desconfiança". O que é muito triste.

Deixo aqui uns links dos blogs cultzinhos que fico lendo de vez em quando e a tese de doutorado sobre o assunto:

BUSCA DE DEFINIÇÃO OPERACIONAL DE CIÚME: UMA CONSTRUÇÃO TEÓRICA E EMPÍRICA.
Acredite: o ciúme não é o tempero do amor.
Ciúme: atestado de egoísmo.
Ciúme, o ladrão de felicidade
Ciúme: o agente opressor das relações

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