"Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos." (Salmo 119:10)

sábado, 15 de junho de 2013

Mas que livro eu seria?

Eu seria um livro desses que não é muito caro e é distribuído comercialmente em uma quantidade considerável, em uma quantidade suficiente pra ficar na biblioteca das escolas ou em algumas estantes de adolescentes fora de suas épocas. Eu seria um desses livros que não é relido umas trezentas vezes, mas que lido uma vez, pronto, tá bom, se causou diferença, causou, se não, tudo bem, se pelo menos não ficar naquelas listas de piores do ano, está ótimo. Nem precisa me comprar, posso ser um desses livros que é emprestado, vai de mão em mão porque alguém disse que é bom e passa, e aí passa, passa, passa, todo mundo leu, gostou, devolveu ao dono, pronto. Fez o que tinha fazer, passou por onde tinha que passar, foi lida por quem tinha e quis ler, ficou com algumas páginas rasgadas, as orelhas machucadas, a capa amassada, mas está ali ainda e a história não se perdeu. Pronto. Minha história seria uma tragicomédia, porque rir é o que há de melhor pra se fazer, e porque eu não preciso mais me preocupar tanto assim com tudo, nem me culpar por tudo o que aconteceu. Eu não me escreveria, longe de mim, não aguento autopromoção, autobiografias e etc.Não confio em mim mesma nem no que porventura escrevo, daqui a alguns dias eu posso negar, desconstruir e desconfiar de tudo isso que tô escrevendo agora. Eu seria só mais um personagem, uma ideia de um autor que tem uma ideologia e colocou no papel, seria só mais um de seus milhões de livro e com certeza eu não seria o livro mais livro. Esse Livro já existe. Esse Livro é Ele, não eu. E isso é que é o bom. O livro não seria "eu ali", não seria meu, eu não seria de mim, eu não seria a melhor. Estou aprendendo a me negar.

Imaginei a minha morte e fiquei muito feliz. Não, não fiquei com vontade de morrer nem estou querendo me suicidar, mas fiquei feliz porque não me preocupei tanto comigo na minha morte. Eu me preocupei com quem estava ao meu lado desesperado e lembrei, por poucos instantes, das pessoas que eu estava deixando pra trás... E não me preocupei também. Fiquei muito tranquila e acho que isso tem a ver com a tranquilidade e confiança que estou aprendendo diariamente a ter em Cristo. Eu não me preocupei porque sabia que alguém melhor que eu podia cuidar de cada um, porque aprendi que ninguém "depende" de ninguém.

Eu estou aprendendo a me negar, a desapegar de mim mesma, a cair na real: não precisam de mim. Não sou eu que faço o trabalho, não sou eu a responsável pelo trabalho dar certo ou não, não preciso nem quero nem tenho que ser conhecida ou reconhecida, eu não. Não preciso nem tenho que depender de alguém, se não Ele. Não preencherei o vazio de ninguém, assim como ninguém preencheu o meu até hoje. Isso É ÓTIMO! Isso é me "desreponsabilizar", no melhor sentido e pro melhor motivo. Só Ele pode, e pra isso é preciso que eu me negue. Negando-me é possível que tudo isso seja preenchido. Aí vem a calmaria, aí vem a segurança, aí vem a certeza, ... E junto com tudo isso, vem a minha cruz. Tomo a minha cruz, Senhor. Eu tomo a minha cruz e Te sigo, porque o Senhor pode me ajudar a carregá-la, porque já me neguei, já sei, não posso carregar sozinha, não aguento esse peso todo e não tem motivo pra isso... Se o Senhor diz que meu fardo é leve, então eu acredito. Eu me nego, eu tomo a minha cruz e eu Te sigo. Eu me nego e aí fico tranquila, porque dessa maneira o Senhor pode entrar, fazer o que quiser comigo. Eu não quero reagir à tua ação.

Eu me nego, eu tomo a minha cruz e eu Te sigo, Senhor. Te seguindo, ela fica bem mais leve, me negando, eu fico bem mais leve! Aí eu entendo, Senhor. Eu entendo o que queres dizer com a liberdade que a Graça me dá! Eu entendo porque a Graça faz sim todo o sentido pra mim... Porque que, se eu não me negar, não me desvencilhar de mim mesma, eu caio na mesma rede, eu caio nos mesmos erros e tudo parece tão pesado de novo... Eu entendo também porque mesmo te seguindo com uma cruz nas costas as coisas ainda ficam leves, o problema não causa tanto medo, e se causar, ainda estou firme. E daí?

Esquecer de mim foi a melhor escolha que fiz. Não querer me sentir importante foi a melhor coisa que fiz. Não me importar se não se importam comigo foi a coisa mais tranquilizadora, mais consoladora e libertadora que fiz! Isso, peço, não confundir com indiferença ou excesso de amor próprio, não se trata disso, é o inverso disso. Não sentir mágoa nem rancor nem dúvida do carinho/afeto que podem sentir por mim, ou não, mesmo se não fui esperada, ou não. Não me preocupar nem me doer se no fundo só me querem tão bem também porque sou apenas necessária, não tanto pelo que sou e por conta disso posso oferecer. Não sentir que isso tudo é porque a minha mãe não me esperou, nem se preocupou em que nome dar pra mim, se não teve festa quando eu nasci, se um dia minha morte foi esperada e até pedida, eu não me entristeço. Isso tanto faz. Eu não sei por que eu deveria mesmo ser motivo de sofrimento ou preocupação pra tantas pessoas. Se tudo isso talvez foi o motivo de eu ficar assim tão "mal-amada" por mim, então tudo bem. Que que tem? Eu tô tão tranquila, o amor que eu conheci e recebo transborda, passa disso, vai além. Não que não seja importante, é importante como uma piada é. Passam a ser só umas histórias pra contar, não motivo de preocupação ou revanche. Simples assim.

"Pra dilatarmos a alma temos que nos desfazer, pra nos tornarmos imortais a gente tem que aprender a morrer com aquilo que fomos e aquilo que somos nós..."
(O mérito e o monstro - O Teatro Mágico)

"... negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me." (Mt 16:24b)

E como um girassol, Senhor, eu me coloco diante de ti...

e com é bom também!

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